Se você chegou até aqui, talvez  ainda signifique algo…

É uma surpresa que você tenha chegado até aqui. E, se chegou, deve significar alguma coisa. Talvez por causa de algo que mencionei antes… como as cartas. Vamos começar por aí.

Depois daquele fatídico 6 de janeiro, no começo eu queria sentir raiva de você, ou algum sentimento parecido. Mas como sentir isso por alguém que se amou tanto? (Claro, sem tirar o mérito da minha mãe).
E mesmo que eu sentisse… teria sido amor, de verdade? Por isso comecei a escrever poemas. Não era algo constante, mas sempre apareciam durante a semana. Você provavelmente já conhece alguns. Um deles mandei pro Miguel — aniversário dele chegando e eu me sentia mal por não poder estar lá.

Talvez eu não tenha conseguido me expressar bem e isso pode ter passado uma impressão errada… Mas uma das melhores partes do meu dia era quando vocês chegavam à noite. Ele vinha correndo na frente, me chamando — e eu sempre o abraçava. Enquanto isso, você estacionava o “veículo”.

Ele já tinha uma figura paterna, e talvez por isso eu criasse um bloqueio pra demonstrar esse tipo de afeto. Agia mais como um irmão… não queria forçar nada. Parece estranho, eu sei. Eu também achei. Mas foi o que um psicólogo me explicou, e com o tempo, fez sentido.
Mesmo que eu não falasse ou demonstrasse, eu o amava. Só pelo fato dele ter o seu nariz… ele era uma parte de você. Uma extensão da pessoa que eu amava.

Depois de um tempo, parei de escrever as cartas. Tentei “aceitar” tudo. Até que assisti, por acaso, aquele filme — Diário de uma Paixão. Mencionei na última carta. Coloquei sem pensar muito, e fui surpreendido. Fiquei reflexivo…
Comecei escrevendo uma carta enorme, cheia de lamentos e pensamentos. As próximas foram ficando mais leves, como se eu estivesse escrevendo pra alguém que estivesse me esperando em casa.

E as coisas mudaram. A maioria dos planos que eu sonhava em voz alta com você se realizaram: trabalho, estabilidade, casa… Só falta o carro — e ele está bem próximo agora.
Lembra do curso que falei? Fiz. Segurança. Saí do antigo trabalho, e hoje atuo na área. Nas cartas, dava pra acompanhar essa jornada.
Todo dia eu pegava o ônibus. E na volta, fazia questão de ficar do lado do sol… só pra ver você de longe quando passava em frente ao seu trabalho. Às vezes bastava ver sua bicicleta estacionada. Aquilo já salvava meu dia.

Nessa época, eu praticamente não dormia. A rotina era pesada. Mas esses 5 segundos… passavam rápido, mas salvavam o meu dia.
Aluguei aquela casa que seria nossa. Quando entrei lá e vi um lugar cheio de memórias que nunca existiram… não consegui morar ali. Está alugada até hoje.

Esses foram os fatos mais marcantes.
No dia a dia, terminava cada carta me despedindo dos dois, com um “até amanhã”. Era minha forma de estar presente mesmo à distância.

Cada um enfrenta o luto de um jeito, não é? Às vezes, eu entrava no sistema da faculdade só pra conferir se estava tudo certo. Ainda tenho acesso. Mas não se preocupe, sei que está cuidando de tudo, mesmo com algumas entregas em cima da hora. Faz tempo que não entro, e vai continuar assim. Era só uma forma de me sentir perto, mesmo de longe.

Nesse tempo, também compus músicas para você. Sim… compus. E produzi. Mais de 20.
Nem todas eram exclusivamente pra você, mas a maioria sim.
Gostei da coisa e fui aprendendo mais. Não cheguei a mencionar isso nas cartas excluídas. Nunca publiquei, mas tentei muito.
Sofrer, virar poço de inspiração e não ganhar nada com isso? Brincadeiras à parte, enfrentei problemas técnicos com registro de averbação, mas vou resolver.
Em um dos plantões em Brasilia conheci um certo grupo musical que tocavam mais “reggaeton”. Me surpreendi com o ritmo e as pessoas, peguei o contato do DJ e vocalista ( são bem jovens – 20 a 25 anos), quem sabe vem uma parceria ai? 

Espero que não se importe com o vídeo e as imagens no clipe. Achei que isso deixaria tudo mais sentimental. (Sim, eu apelei.)
Essa é só uma das várias que fiz. Algumas se perderam com o celular, mas por sorte tinha um backup na nuvem.
Quase todas têm esse estilo melódico e eletrônico. Espero que não tenha pensado em algo como brega funk — aí sim, você não me conheceria.

Muitas vezes, quando encontramos alguém que nos dá amor, apoio, companheirismo e respeito — os 90% —, acabamos focando nos 10% que faltam: um detalhe de personalidade, uma diferença de gosto, um comportamento que incomoda. Se não tomamos cuidado, essa pequena insatisfação cresce e ofusca tudo o que há de bom.
Mas a verdade é que ninguém é perfeito. Nem nós. E aprender a valorizar o que temos — em vez de idealizar o que falta — talvez seja o segredo das relações que realmente duram.

Todas as conquistas que mencionei, e até as que ainda estão por vir… nada disso tem valor sem vocês na minha vida.
Aprendi a viver sem. Mas sei que nunca vou ser realmente feliz assim.

A primeira carta, com o QR code, era uma despedida simples. Esta aqui… é diferente. É mais íntima, robusta. É um contato mais direto.

Cada um tem sua forma de seguir. A minha foi como o Noah, no filme: amar à distância, em silêncio, todos os dias.
Eu escolhi vocês. Disse “sim” pra essa escolha no dia 12 de junho de 2024.
Amar, no fim das contas, é isso: escolher alguém mesmo quando tudo parece contrário.
E eu escolho vocês. Todos os dias. Mesmo que vocês não estejam mais aqui.

Sei que você fez sua escolha. E respeito.
No filme, eles só se reencontraram porque ela decidiu ouvir o coração e entender o silêncio.
A diferença é que aqui não houve cartas interceptadas — só silêncios interpretados de formas diferentes.

Se você chegou até aqui, lendo isso, é porque talvez algo ainda vive aí dentro.
Essa carta foi feita pensando nisso.

Não quero o que tínhamos. Quero algo novo. Genuíno. Melhor.
Aquela proposta ainda está de pé: um recomeço, leve, sem pressa.

Não me importo com o que aconteceu nesse tempo (não que eu não saiba). Cada um supera como pode.
Talvez eu esteja passando vergonha agora. Talvez me arrependa um dia. Mas prefiro isso a ficar me perguntando “e se?”

Diferente do Noah,  resolvi agir. Se ele tivesse ido até ela… talvez nem precisasse escrever por um ano.
me perguntava: E se ela pensa da mesma forma?
Mas e se eu não fizer nada? Melhor saber a resposta do que viver se lamentando por não ter tentado, deixando o orgulho e a insegurança para trás.

Esse site tem um certo rastreio de visualização, então vou saber quando ver (se ver).
Se chegou até aqui e mesmo assim não quiser aceitar a proposta (silêncio), vou entender . Seguirei com a mesma filosofia, porém, não irei mais tentar entrar em contato contigo.
Se quiser aceitar, ou se passar o tempo que for e mudar de ideia – Não precisa me falar muita coisa, só me manda um “🧁” (cupcake) em qualquer rede social e vou saber.

De qualquer forma…
Ainda estou aqui. ( I’m still here )